quarta-feira, 23 de maio de 2012

Globo encosta o pensamento neoliberal






Como na brincadeira gráfica de “onde está Wally” dos anos 1980, quem assistisse o “Jornal das 10”na TV à cabo Globo News, iria ressentir-se da ausência de representantes do enfoque mais liberal sobre economia no debate que a editoria do telejornal convocou para avaliar a situação da Europa nas novas circunstâncias de agravamento da sua crise interna.

Onde estariam figuras como Malan e Armínio Fraga para discorrer sobre as turbulências da zona do euro? Simplesmente não foram convocados para dar as opiniões que muitos julgam já conhecer: que as políticas de austeridade deveriam ser aprofundadas, que países (leia-se a Grécia) deveriam abandonar a moeda única e que os juros deveriam ser elevados para equalizar balanços de pagamentos entre os países.

Mas porque essas teses não gozam mais de qualquer credibilidade, desmoralizadas pelo descarte generalizado de que foram objeto no receituário até agora adotado pelas maiores economias do mundo para enfrentar a dupla turbulência provocada pelos títulos imobiliários americanos desde 1998 e mais recentemente pelos títulos representativos de dívidas de governos europeus, os chamados títulos soberanos, aqueles senhores não foram convidados.

Se ausentes estavam as duas figuras mais representativas do pensamento econômico encarnado por Fernando Henrique Cardoso, presente estavam duas figuras da velha guarda que viram nos últimos tempos sua matriz de pensamento revitalizada pela confirmação das reconhecidamente boas teses do economista inglês dos anos 20 do século passado John Maynard Keynes, aquele quem melhor diagnosticou os males da crise de 1929 e aviou-lhe a melhor receita de superação.

Representando as ideias que melhor expressam setores mais amplos da economia – indústria, comércio e agricultura – e que respondem pela grande massa de empregos no País, estavam os ministros Delfim Neto e Luis Carlos Bresser Pereira. Ambos vinculados ao que se poderia chamar de vertente desenvolvimentista do pensamento econômico brasileiro, que creem que a saída para a crise europeia esta no relaxamento das amarras monetárias e fiscais na Alemanha,  a fim de que a economia do continente como um todo volte a ganhar vigor e supere mais rapidamente a turbulência que atravessa.

Diga-se de Bresser Pereira, que a emissora tentou fazer passar como afinado com o governo Fernando Henrique Cardoso, ser ele na verdade um dissidente do pensamento econômico tucano, que se rebelou faz pouco contra a defesa velada que vinham fazendo seus pares de partido das políticas de austeridade ditadas pelos bancos e setores rentistas no Brasil, renunciando à sigla que ajudou a fundar.

Fica claro do episódio que as orientações econômicas professadas pelos expoentes da PUC do Rio de Janeiro e que têm sua fonte de formulações teóricas dirigidas ao PSDB no agrupamento conhecido por “casas das garças”, também no Rio, não consegue mais frequentar as bancadas da Rede Globo como vinha fazendo até antes do governo Dilma Russef.

Cabe notar que a essa rarefação do pensamento econômico conservador notadamente vinculado aos interesses do setor financeiro, correspondeu também o sumiço da comentarista Miriam Leitão dos telejornais noturnos da emissora e agora, mais recentemente, também do comentarista Carlos Alberto Sardemberg cujo irmão é economista-chefe da Federação dos Bancos, a Febraban.

Nada como o vento dos novos tempos para varrer o pó das velhas ideias e devolvê-las aos livros-textos, de onde jamais deveriam ter saído.




Um comentário:

  1. Os outros quebram, os blogueiros oficias ficam, não é. Keynesianos a rodo afundam o mundo em mar de moedas, vamos esperar o óbvio, infelizmente. Como sempre, os liberais virão consertar a 'm...' que os progressistas armaram em nome do povo e contra o império e tróloló, patati patata!
    Bormão

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