segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Morre diabo!

A Conferência do Instituto Solvey de física e química em Bruxelas em 1927. Os maiores nomes da ciência do século passado reunidos num só lugar. O sexto da direita para esquerda Erwin Schrodinger.

Certos momentos na história da ciência podem representar significativas mudanças na forma como interpretamos a vida ou como a viveremos no futuro próximo. São temas colocados no dia a dia das pesquisas, que não são levados ao grande público pelo fato da comunidade científica não julgá-lo preparado para compartilhar noções excessivamente subvertedoras daquelas mais mais comuns que o mantem apascentado na vida cotidiana.

Trazê-las à divulgação, no entanto, tem o potencial de retirar à sociedade a condição de agente passivo da inovação científica que, levada ao mercado na forma de tecnologia em momento posterior, só faz por aumentar a segregação dos que não dominam os aspectos mais ordinários de uma existência cada vez mais automatizada. Por implicar em transformações iminentes na forma como homem relaciona-se com a natureza e com o próprio homem é que precisam ser popularizadas.
Para o que importa a este artigo conviria registrar como o momento mais revolucionário do modo como homem viria a lidar com a matéria que constitui o mundo físico ao seu redor, a Conferência de Solvey de 1927 na Bélgica,quando luminares da física do começo do século reuniram-se a fim de colocarem-se de acordo sobre os novos paradigmas trazidos pela física quântica à ciência do começo do século.
A emergência então de novos paradigmas respondia às descobertas que fizera a física quântica com relação ao comportamento dos pacotes de energia de que era composta a luz, os fótons, cujos quantuns (daí a nomenclatura de física quântica) comportavam-se de maneira anôma-la em relação à matéria conhecida.  
Extraídos a um mesmo corpo luminoso podiam ser superpostos e quando manipulados apresentar comportamento inverso, mesmo que colocados a grandes distâncias entre si. Separadas duas partículas da ordem de poucos nanômetros (bilionésimos de milímetros) a anos luz uma da outra, o que se fizesse numa repercutiria inversamente na outra.
Se destruída uma partícula aqui outra ressurgiria noutro lugar, se deslocada à esquerda num lado, uma contraparte sua se deslocaria para a direita noutro lado. Tudo de sorte que a experiência interferiria sempre no experimento e nada ficaria imune a essa interferência. A circunstância recusada por Albert Einstein de início, no que se refere às distâncias envolvidas, ganhou confirmação com as pesquisas recentes proporcionadas pelos instrumentos disponíveis de observação da matéria no plano das suas partículas constitutivas elementares.
Sendo a matéria uma forma particular de energia também os corpos físicos estariam teoricamente sujeitos a condições erráticas de partículas que pulsariam sem existência permanentemente concreta, em que o existir e o não existir constituiriam mesmo estados simultâneos ou intermitentes de sua forma de vir ao mundo.
Pra ilustrar essa situação um dos físicos presentes ao encontro, Erwin Shrodinger, propôs que se imaginasse um gato junto a quem fosse disposto veneno dentro de uma caixa fechada. Até que se abrisse a caixa nada se saberia sobre a situação exata do animal, se estaria vivo ou morto. E uma vez aberta a caixa, nada poderia ser especulado cientificamente sobre qual sua condição anterior.
Esse seria o gato de Shrodinger, vivo e morto ao mesmo tempo até sair da caixa. Esse estado dúplice seria mesmo o estado permanente da matéria no universo, existente e não existente, presente e não presente, provável e improvável,viva e morta simultaneamente.
Contra o argumento teórico se opõem as constatações do mundo fisco em que prevalece a lógica newtoniana. Que no caso do gato reivindicaria um gato vivo dentro da caixa e o mesmo gato vivo ou morto depois fora da caixa. Mas o fato é que as coisas grandes só aparentemente mostram-se estáveis. Apenas após de transposto certo nível de interações no plano das partículas enquanto cresce o tamanho do objeto, quando ainda são e não são, é que sua projeção externa se mostraria estável à percepção.
É por essa mesma razão que tudo que não é coerente com a estabilidade dos corpos se nos apresenta contra-intuitivo. O decaimento para a instabilidade seria assim dado matematicamente por meio de equações multifuncionais de grande complexidade de modo a permitir inferir a transição do existir ao não existir, já que no plano físico apenas seria possível atestar um dos lados da moeda, o da existência.
Nesse ponto em que se concentra o formidável dos experimentos e das especulações científicas. Se fosse possível derivar uma equação que protelasse o decaimento a partir do ponto em que ele alcançasse um ponto de limiar na passagem à não existência, seria possível então chegar a uma formulação de seu estado estável e organizado, que seria mesmo o estado que consideramos pertinentes ao das coisas vivas.
Isso mesmo, uma equação da vida, que codificada em processo bioquímicos programados permitiria superar o decaimento imperceptível a meios empíricos, e mantê-lo em estado de permanente coesão e organização física.
A manipulação dos estados anteriores à alternância entre existir e não existir dos quantuns já vem sendo aproveitado no processamento de dados nos denominados computadores quânticos, mecanismos capazes de processar bilhões de cálculos simultaneamente e que ofereceriam os meios para formulações necessárias à captura matemática do decaimento. Acredita-se que esses computadores já testados em laboratórios de física de partículas estejam em duas ou três décadas operando comercialmente.
Claro está que enquanto nos mantivermos no estágio de impedir que os pobres morram de doenças as mais banais sem nos preocuparmos com a socialização dos frutos mais avançados da ciência já desde seu início, a começar pela divulgação do que vem sendo investigado por cientistas, os benefícios que dela advirá tenderá a estar concentrado em poucas mãos. As mesmas que, por força da conjugação de um saber e de riquezas hiper-concentrados, assegurarão a um grupo restrito no futuro a condição de virtual imortalidade.
Aí então não será preciso mais guerras para conservar o domínio sobre amplas partes do globo como se faz hoje, bastando apenas que se deixe a maioria morrer naturalmente enquanto a parcela no controle se beneficia da quase imortalidade proporcionada pelos avanços da medicina.
Como se o insano, que preso após assassinar a mãe em São Paulo, continuasse a gritar profeticamente diante das cameras de televisão para todos nós: morre diabo!
               

Nenhum comentário:

Postar um comentário