sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fique atento: seu pestinha pode matar alguém


Para muita gente parece inconcebível que uma criança cometa um assassinato, mas embora este tipo de ocorrência criminal tenha sido rara no passado, de algumas décadas para cá passou a ser algo cada vez mais comum.
O mais famoso assassino mirim de que a história tem noticia foi Jesse Pomeroy. Um garoto de 14 anos que em 1874 ficou conhecido como o diabo de Boston, por ter torturado até a morte uma criança de 4 anos e um mês depois ter morto e mutilado uma menina de 10 anos que adentrou a loja de sua mãe. Três anos antes, com 11 anos de idade havia seviciado e decepado o pênis de 7 outras crianças entre 6 e 8 anos de idade. Após um julgamento rumoroso em que foi condenado à morte, teve a pena comutada para 40 anos em cela solitária.
Dos casos recentes, o mais chocante foi o de duas amiguinhas inglesas de 10 e 11, que em 1968 tornaram-se conhecidas como “Fanny e Faggot”, por deixarem junto aos corpos por elas estripados inscrições sob esse pseudônimo. Fizeram como vitimas 3 outras crianças menores a quem arrancavam as vísceras com navalha de barbeiro. Tinham por hábito comparecer à casas das vítimas, acompanhadas de seus pais, a fim de admirarem os cadáveres. Seus nomes verdadeiros eram Mary Flora e Nora, ambas coincidentemente com o mesmo sobrenome Bell.
Surpreendente, contudo, foi o caso ocorrido em 1998 na Flórida envolvendo o adolescente Joshua Phillips que depois de haver assassinado seu vizinho de 8 anos de idade, escondeu provisoriamente seu corpo sob a cama. Após descobrir o corpo devido a fluídos corporais que escapavam pelo carpete, sua mãe em pânico foi também brutalmente assassinada com 11 golpes de bastão de baseball.
Como todo caso de violência, crianças podem cometer assassinatos em diferentes contextos e devido a diferentes motivações. Mas excluindo disparos acidentais de armas de fogo, um número apreciável de crimes cometidos por crianças obedece, segundo especialistas, a seguinte categorização,
1-  Assassinos juvenis ou mirins: crianças que crescem em ambientes violentos e que por essa razão fazem da violência seu padrão típico de resposta, seja para defenderem-se seja para obterem aquilo que desejam;
2-  Assassinos em família: crianças que acabam assassinando membros da família de modo incidental por motivos financeiros, ódio ou para atender desejos de outros membros da família.
3-  Assassinos Cults: crianças que cometem assassinatos de colegas ou crianças menores por atos de satanismo ou como rito iniciático de gangs ou “tribos” de indivíduos que comungam de um mesmo ideário de violência;
4-  Assassinos psicopatas: crianças com transtornos mentais, que sofrem de depressão, paranóia ou esquizofrenia, exatamente como adultos;
5-  Assassinos escolares: crianças que agem em geral quando se dão conta de terem cometido algum erro, sentindo-se numa situação de confinamento em que a única saída lhes parece ser a morte. Seus atos decorrem de um processo de acumulo de raiva que culmina num surto de violência (burnout). Como os casos de crianças submetidas a bullying continuado e que acabam por disparar contra seus agressores;
6-  Assassinos situacionais: crianças cujos crimes são cometidos em situações de delinquência, como o roubo;
7-  Assassinos sexuais: crianças que assassinam outras crianças motivadas por impulsos sexuais, em geral envolvendo toques de perversidade  e mutilação;
8-  Assassinos por ódio racial ou de gênero: Crianças solitárias e deprimidas que desejam que seus sofrimentos pessoais sejam experimentados por terceiros. Em geral são também suicidas e são movidos pelo desejo de levar alguém consigo no momento do suicídio.
9-  Assassinos de filhos: Crianças pré-adolescentes que matam seus filhos a fim de evitar a desaprovação de seus próprios pais ou apenas para evitar a situação de serem obrigados, enquanto crianças, a responder pela mantença e cuidados de outras crianças. Em geral as meninas alegam depressão pós-parto.
No esforço de apontar um fundamento geral por o assassínio na infância, os psicólogos estão cada vez mais inclinados a considerar a tese de que desvios de conduta na infância tendem a descambar para sociopatias ainda nos primeiros 15 anos de vida. Esses desvios de conduta podem ser agrupados em 5 tipos básicos de comportamento, antes de evoluírem para um quadro agudo de violência fatal:
·        Transgressão de regras sociais;
·        Agressão de colegas e parentes;
·        Danos à propriedade;
·        Mentiras reiteradas;
·        Pequenos furtos.
Por sua vez, as categorias de condutas desviantes podem ser categorizadas em seis diferentes classes:
·   Transtorno de conduta: quando há um problema comportamental persistente por parte da criança no sentido e violar direito de outras crianças;
·    Transtorno de desafio e oposição: quando a criança assume continuadamente uma postura de desafio e desobediência a regras estabelecidas pelos grupos sociais em que está inserida, incluindo a resistência a autoridade de adultos. Esse traço pode ser detectado por meio da expressão de comportamento temperamental por parte da criança, contra-argumentação reiterada frente a repreensão de adultos e a visível manifestação de raiva e ressentimento a eles dirigida;
·   Transtorno de comportamento disruptivo: situação em que a criança demonstra persistente ansiedade e tendências agressivas que não se enquadram nas categorias acima, mas que causa preocupação aos responsáveis.
·    Transtrno de ajustamento combinada com desordem de conduta: quando a criança apresenta um quadro de dificuldades de ajustamento social combinado com comportamentos antisociais transcorridos ate 3 meses de um fator motivante de ordem emocional;
·    Comportamento antisocial: situação em que a criança definitivamente se isola, adotando comportamento misógino que não pode ser explicado por uma desordem mental.
Muitos desses enquadramentos têm sido associados com síndrome do déficit de atenção ou mesmo de hiperatividade, transtornos hoje considerados separadamente. Um dizendo respeito à incapacidade de focar a atenção e o outro relacionado a comportamento irrequieto e compulsivo. Enquanto a hiperatividade é considerada como não representando grandes problemas no disparo de epsódios de violência, o déficit de atenção vem sendo visto como um sinal do desenvolvimento de psicopatias ou indício da presença de um tipo de afetividade em que está ausente o sentimento de empatia ou de remorso.
Estudo conduzido pela Universidade do Oregon com 81 meninos recolhidos a internatos em razão de conduta agressiva, revelou que todos apresentaram quando mais novos desordem de conduta ou comportamento antisocial. Eram também mais propensos a psicopatias em idades mais avançadas.
Em outro estudo, este de longo prazo, ficou demonstrado que personalidades psicóticas apresentaram na infância comportamento caracerizados como sendo de agressores habituais, o que os levou na vida adulta ao cometimento de atos de maior gravidade.
Em suma, parece estar bem assentada em observações a hipótese que a detecção de psicopatias infantis é a melhor forma de prevenir comportamento antisociais na adolescência, especialmente quando se trata de meninos hiperativos, impulsivos ou que sofram de déficit de atenção.
Os aspectos mais comuns associados ao desenvolvimento de psicopatias infantis são, por ordem de importância: mães submetidas a privação física durante o desenvolvimento do feto, ausência de figura paterna, mães emocionalmente instáveis, baixo peso no nascimento e complicações de parto, reações desproporcionais a insultos ou à dor física, dificuldade de fazer contato por meio do olhar com adultos, baixa tolerância a frustrações, senso de autoestima exagerado, dificuldade de intercâmbio com outras crianças ou apego excessivo a outra criança com o mesmo perfil que o seu, crueldade dirigida aos outros, cometimento de violência contra animais, falta de remorso ou de sensibilidade com relação a terceiros e falta de empatia com amiguinhos.
Como tudo isso degenera num assassinato? É o ambiente, é sua contribuição meu amigo ou minha amiga.  
                                                                                 
Fontes: American Psichiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 1994;
Bad Boys, Bad men: confronting antisocial personality disorder, Black D. Oxford Press, 1999.

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