quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Educação e Tecnicismo




















A última palavra da moda em matéria de educacão passou a ser "ensino técnico e profissionalizante". Em se tratando de moda, que sempre retorna algo adaptada, muito já foi dito em análises críticas sobre essa perspectiva em educação: que cria modernos ajustadores de parafusos; que esvazia o caráter formativo do ensino, conservando-lhe apenas o informativo; ou que cria contingentes de despreparados para intervir nas sempre cambiantes condições com que opera a economia do conhecimento.

Muito embora as críticas dirigidas à natureza dos programa em educação colocados em prática pelos governos no Brasil - particularmente os de extração mercadista - sejam todas válidas, farei aqui como recomendava Schopenhauer em sua "a arte de escrever", atendo-me apenas ao que for digno de ser dito.

Mesmo que bem sucedidas em abastecer de técnicos o mercado, essas políticas fracassarão em seus objetivos últimos caso as novas aptidões de trabalho que venham proporcionar não sejam elas mesmo resultado de um processo mais difundido de produção intelectual tendentes a lhes dar alcance produtivo mediante integração às cadeias mais flexíveis de um desenvolvimento tecnológico internacionalmente articulado.

A autonomização do conhecimento que articula a produção tecnológica, exprime transformações de natureza mais complexa situadas no âmbito da superestrutura das sociedades capatalistas contemporâneas, em questões ligadas ao exercício da cidadania e da formação inteletual da juventude, que não se circunscrevem exclusivamente ao preparo técnico.

De pouco ajudaria na constituição de um ambiente propício à reprodução e ao desenvolvimento incremental da ciência uma sociedade sem rosto que surgisse de esforço educacional desse tipo, baseado tão somente no "moto" do atendimento mais imediato às expectativas de consumo e de bem estar de segmentos sociais emergentes da presente e alterada configuração da divisão internacional do trabalho entre os principais grupos de nações do mundo.

A idéia tola de falar politicamente a um ou outro desses setores de classe, com vistas ao calendário eleitoral, substima que o lugar do estabelecimento de uma mentalidade secular e cidadã é a escola e não o "shopping center". E que o gosto pela ciência e por tudo aquilo que ela será capaz de fazer pelo país nasce das cátedras comprometidas com o conhecimento e valorizadas pela sua função social.







Não seria excessivo lembrar que a tendência a fazer-se sobrepor a ascensão social mais imediata aos ganhos coletivos que possam advir do rápido preenchimento dos espaços deixados vagos pelos deslocamentos tectônicos do mecado de trabalho, não é característica deste ou daquele país nem tampouco daqueles em fase de rápido desenvolvimento.

Também a Inglaterra viveu situação semelhante nas décadas de 60 e de 70 do século passado na contrapressão das mudanças operadas com a ascensão dos Estados Unidos à condição de potência hegemônica depois da segunda grande guerra. Aos contingentes de trabalhadores dos distritos industriais de Manchester esvaziados com a perda de lugar da ilhas britâncas no comércio pós-colonial somaram-se outros ainda mais numerosos egressos da indústria de máquinas e equipamentos e da City londrina, depois que o silenciar dos canhões revelaram a balbúrdia das bolsas novaiorquina.

A resposta do governo britânico foi remodelar o ensino no país buscando emprestar a um sistema educacional que havia produzido luminares como Janes Watson e Francis Crickt , formuladores do modelo di-helicoidal do dna, uma feição mais pragmática e mais consorte com as necessidades de ajustamentos econômicos de curto-prazo do reino.

Foi por esse tempo que um então bastante conhecido grupo de rock, Pink Floyd, produziu um vídeo-musical denúncia sobre as mazelas da educação inglesa e sua incapacidade de preparar o futura como pretendia a propaganda de governo. Chamava-se "mais um tijolo no paredão, para insinuar o fechamento à reflexão que tal sistema operava.

O material é de todo válido não só para o mesmo Reino Unido nos dias de hoje - às voltas com os efeitos sociais disruptivos do tecido social de um capitalismo não comprometido com a formação - mas, de uma maneira bem mais proveitosa, para as nações que passam a ocupar um novo lugar na ordem mundial. A mensagem é que cidadania, ciência, formação e democracia caminham juntas.


O papel da educação é o de colocar a ciência no cotidiano das pessoas.





Um comentário:

  1. Sou Mestre em História pela UFES e, ao vasculhar a internet em busca de conteúdos críticos sobre o tecnicismo me deparei com o seu blog, vou tomar a liberdade de vasculha-lo para um melhor conhecimento, mas de antemão lhe adianto que sua fala acima foi visceral e enriquecedora, principalmente por lembrar do contexto da Inglaterra quando a maioria dos artigos tratam apenas das influências estadunidenses sobre o Brasil, parabéns.
    (Paulo César Ruas)

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